Deixe que o amor morra

10:47 Kamila Siqueira 0 Comments

 31/08/2015



"- Eu não entendo porque você ainda se tortura desse jeito. 
 - Não sei, eu só queria... sei lá... consertar as coisas."

O amor acaba.
Eu sei disso, você sabe disso, mas a gente não sabe colocar isso em palavras direito, que dirá colocar em prática. Eu não tenho boas histórias sobre fins, você sabe. Mas é isso que me faz agradecer por sempre ter existido um fim.
Imagine estar condenado a amar alguém pelo resto de sua vida, mesmo quando esse amor já não faz bem? Imagine ter um amor eterno, quando ele já se tornou tóxico? Não, ainda bem que o amor acaba. Graças a Deus o amor morre.

Assistir um amor morrer é como assistir alguém morrer: é rápido e definitivo. Às vezes a gente nem quer que ele morra assim, pra sempre mesmo, mas se a gente não escolhe a hora da própria morte, por que escolheríamos as mortes de nossos amores? O amor se esvai rápido como a própria vida. Morre em uma noite escura ou durante o bom dia matinal, no fim da tarde, com o pôr do sol. Morre em um susto, com um tiro. Morre com uma palavra errada, com um ato imperdoável, com um deslize acidental. O amor morre de uma vez por todas, sem volta, como a própria vida. E dói, como a própria vida.

E, como quando uma pessoa morre, também é tolice esperar que o amor se levante no dia seguinte à sua morte. Você não abre o caixão de uma pessoa morta para tentar convencê-la de que ela ainda pode viver. Não dá para consertar o que já está morto. Você não liga de madrugada para um falecido para perguntar como ele está. Você não manda uma mensagem de texto para alguém que já foi sepultado. Então por que faz isso com um amor que já se foi? Se tentar impedir que enterrem alguém que já se foi, aquilo irá apodrecer em suas mãos, é questão de tempo. Meu amigo, ouça o meu conselho: às vezes a gente tem que respeitar o ciclo da vida, por mais que ele doa.

E vai doer. Eu sei que dói. E tudo bem doer, você pode sentir a dor, você deve sentir a dor. Como quando alguém morre. Você pode entrar em um luto profundo, pode mergulhar em suas próprias lágrimas, pode se perguntar por que a vida é tão cruel. Mas depois você precisa continuar vivendo. Mesmo que ainda haja dor, mesmo que ainda fique a saudade, mesmo que você ainda guarde aquele par de meias que ele esqueceu na sua gaveta antes de morrer, mesmo que você não entenda aquele fim repentino e cruel. Você precisa respirar fundo e lembrar-se de que ainda está vivo.

Ainda há vida lá fora, meu bem. Sempre houve. A gente acha que vai ficando mais difícil a cada queda, mas na verdade a gente já aprendeu a cair do jeito certo faz tempo. E a gente sabe se levantar. É só que às vezes o chão parece tão mais seguro que a gente se acomoda. A gente não quer mais se levantar para encarar o resto da caminhada. Eu também ainda não consigo andar direito desde a última queda. Ainda tenho uma ferida que, de vez em quando, eu arranco a casquinha e ela sangra de novo. E eu quero me sentar de novo no chão e não caminhar nunca mais. Mas eu não posso, meu bem. A gente não pode se entregar. A gente não pode se sentar e deixar a vida correr sem a gente viver, porque a vida é nossa, só nossa e de mais ninguém. Só a gente pode fazer as coisas acontecerem. Só a gente pode mudar o nosso mundo e deixar tudo bonito de novo. Só a gente pode deixa a dor pra trás.

Por enquanto, está tudo bem se você quiser ficar sentado mais um pouquinho aí, até que a dor desse ralado no joelho diminua e você consiga ficar em pé de novo. Mas, quando a ferida cicatrizar, não arranque a casquinha. Deixe o passado no passado. Fica mais fácil caminhar desse jeito, sem ficar retornando ao lugar onde você tropeçou. Você vai conseguir caminhar de novo com os dois pés bem firmes no chão, eu prometo. Só deixe o amor morrer de uma vez por todas.

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