A menina e o telescópio
04/07/2015
Uma noite, ela teve a sorte de deparar-se com uma estrela cadente. E sua alma encheu-se de alegria. Nunca havia visto algo tão mágico e de tão atordoada que ficara, não teve tempo nem mesmo para fazer um pedido. Foi tão rápido e efêmero que ela passou dias perguntando-se "Isso realmente aconteceu comigo?"
Desde então, a menina nunca mais desgrudou os olhos do telescópio, esperando conseguir ver mais uma vez a estrela cadente. Noite após noite, varria o céu com os olhos procurando-a, chamando-a, desejando-a. Até que ela veio novamente. Mas, de novo, de tão boba que ficou, a menina nem falou. Sua mente paralisou, sua voz lhe abandonou, o coração suspirou. E, de novo, ela grudou os olhos no telescópio e esperou.
Não é que ela não fosse feliz sem o asteroide. Ela já vira estrelas muito mais bonitas e satélites muito mais interessantes que aquele pequeno risco no céu. As crateras lunares, os planetas de brilho constante, tudo era tão fascinante! Mas a menina nunca conseguiu ter uma conexão tão profunda e natural quanto a que tinha com aquela viajante.
Conseguiu vê-la durante muitas vezes, mas nunca, nunca era o suficiente. Sentou-se em frente o telescópio e perdeu-se no tempo, dedicando seu coração à efêmera estrela cadente.
O tempo está passando e a menina continua lá, esperando pelos momentos rápidos e pequenos que a enchem de alegria. No interlúdio destes momentos, ela não se afasta do telescópio nem por um instante. Não olha à sua volta, não sabe o que acontece, não mora mais na Terra, está sempre distante. A menina já não é mais uma menina, mas ela não percebe. O tempo já passou, mas ela não se esquece. A vida está fluindo, o barco está partindo, o mundo a puxa para o chão, mas ela não consegue desviar sua atenção. Alguém, por favor, ajude-a. Tire-a dali, quebre o telescópio, mate as esperanças, liberte-a do ópio. Faça-a enxergar como ela está cega. Alguém, por favor, arranque fora seu coração.