Quando vou embora ( Ou sobre o medo de relacionamentos sérios)
17/12/2014
Na última vez em que dividi o travesseiro com alguém para dormir, passei a noite em claro. Literalmente. Revirei-me na cama procurando pelo sono até assistir o sol invadir o quarto que não era meu e perceber, inconformada, que eu não pregaria os olhos até poder deitar em minha própria cama - sozinha.
Ele dormia.
Mas ele não é personagem deste texto porque foi em mim mesma que fiquei pensando durante aquela noite longa. Em como não conseguia me sentir abraçada pelos braços que me abraçavam ou em como a respiração me incomodava e tudo o que eu desejava era poder sair dali - daquela cama, daquela noite, daquele relacionamento que eu nunca permiti que se tornasse um relacionamento.
Eu fugi. Não exatamente naquela noite, àquela altura eu já estava fugindo há muito tempo. Dele, de mim mesma e das palavras que eu precisava e me recusava a pronunciar.
É que não era a primeira vez em que me sentia assim e eu queria tanto não sentir. Queria tanto não sentir aquele desconforto e aquela sensação de que aquele não era o meu lugar, apesar de ser o lugar ideal, de que eu não podia continuar com aquilo, de que eu era um quadrado tentando me encaixar em um círculo perfeitamente redondo. De que eu tentava ser algo que não sou e sentir algo que não sentia. Que nunca sentia. Nunca, com exceção de... Sim, você sabe.
E é isso que me assusta: e se for assim sempre? E se eu nunca conseguir me permitir relaxar? Permitir que eu me sinta confortável com alguém, com a respiração de alguém, com os olhos adentrando minha alma? Quando percebo que deixei os olhos me invadirem até aquelas paredes internas, eu me afasto. Eu evito. Eu perco o interesse, ou invento desculpas, ou traio. Saboto minhas relações, meus amores, a mim mesma. Porque não posso.
E sim, eu sei que falo de amor o tempo inteiro e por favor, acredite, eu amo. Amo muito e de tantas formas! Mas esse tipo de amor, esse do tipo que inspira os poetas, esse funciona de uma única maneira para mim:
Eu me apaixono até as pontas do dedos. Até o último fio de cabelo embaraçado e rebelde. Eu amo e dou amor e dou tanto amor, até me assustar. Assusto-me com o futuro incerto, com as possibilidades, com as novas descobertas, com a seriedade e o compromisso. E então eu me perco. Perco o chão, perco a estabilidade e me assusto por estar perdida e vou embora. Vou embora para a minha casa, para as minhas coisas, para a minha estabilidade, para a minha vida sem eles. Sem nenhum deles. E me convenço de que não quero nenhum deles porque sei que não os preciso. Mas me esqueço que querer e precisar são coisas diferentes. Eu não preciso e posso muito bem ser tão feliz com minha vida desse jeito. Mas às vezes, quando encontro olhos tão bonitos como aqueles de outro dia, eu penso que quero. E me assusto por querer e tenho medo. Mas quero. O que faço para não me sabotar? Para ter coragem de arriscar? O que faço?
Eu tentei uma vez, a única vez em que não fui embora e... ah! Aquilo me destruiu tanto. Eu deveria ter ido embora. Eu deveria saber distinguir quando tenho que ir embora e quando vale a pena ficar. Eu sei que às vezes vale a pena, acredito nisso, quero acreditar. Mas eu fujo. Não quero fugir.
Você, que está para chegar, que talvez já esteja aqui, eu te peço: não me deixe ir embora. Não me deixe te expulsar da minha vida, não permita que eu me desvencilhe de seus braços ou me recuse a te dar a mão sem um motivo aparente. Não me deixe sair sem marcar um próximo encontro, sem dizer um "até amanhã", sem me comprometer a não te abandonar.
Não deixe que eu me perca em mim mesma de novo e me afogue nesse mar de medo. Por favor.