Sobre as noites de sextas-feiras
06/10/2014
Eu queria ser como vocês, que riem sorrisos tão bonitos e não disfarçam com as mãos na boca. Queria saber exatamente onde ir quando desejar algo e como chegar até lá. Eu queria ter a coragem que vocês têm em sair sem planejar como voltar, em deixar pessoas para trás e não se perguntar se elas ficarão bem, não se importar com as questões que irão surgir e ignorar todas as investidas do destino em estragar seus planos. Eu queria ter as noites alcoólicas de passos perdidos que vocês têm, enganando o nascer do sol e prolongando a madrugada com a certeza de que tudo continuará tranquilo. Queria não sentir as vergonhas que sinto e não chamar a atenção para os tropeços como chamo. Não sei explicar meus passos tortos e vocês não os entendem porque caminham em linha reta mesmo quando embriagados de irresponsabilidades.
Eu queria não me importar. Não sentir a culpa que sinto e não carregar esta necessidade de me desculpar e me explicar por tudo. Às vezes não me explico nem me desculpo, mas me culpo e me calo com o remorso dos erros que não cometi.
Eu sinto uma alegria e um amor sem fim, devido à insegurança de que tudo chegue ao fim. Vocês também amam, mas não se importam e amam sem promessas, sem dívidas, sem culpa porque a madrugada ainda vai longe. Eu tenho todas essas inseguranças palpáveis e sólidas, mesmo sabendo que um dia tudo isso irá se diluir em água e meus erros, meus pés tortos, minhas desculpas e nossos amores já não importarão mais, já não significarão nada além de uma lembrança borrada, que pode ser que tenha acontecido de verdade ou não. Eu queria cometer erros com a certeza de que eles irão se dissolver na maré da vida, como vocês fazem.
E eu queria não passar as madrugadas inteiras pensando em todas as voltas que o mundo pode dar, enquanto vocês mergulham pelas ruas noturnas. Sem medo, sem explicações e sem hora para voltar.