Máscara de carnaval
01/03/2014
Eu tenho uma febre que sei que vai passar, mas não passa.
Tenho uma angústia no peito que não sei se passará.
Tenho uma culpa nas costas que não sei de onde vem.
E tenho um medo de olhar nos meus próprios olhos diante do espelho. Não me encaro.
Não sou eu. Eu não sou eu. Alguém me tire de mim porque eu não sou quem sou, não fui tudo o que fui para me transformar nisso que sou, não sonho em ser quem sonho depois de ser quem sou hoje. Não pertenço a esta pele. Alguém me tire dessa pele, me tire desse corpo, esse corpo não pertence a mim, não é meu, não sou eu. Não quero que seja eu. Não quero ser eu. Alguém me dê uma máscara que cubra minha alma, que possa encobrir meus erros e minhas vergonhas, meus fracassos e minhas ingenuidades, minhas quedas em público, meu tropeços, meus enganos. Perdoem meus pecados e os esqueçam. Esqueçam quem sou e lembrem-se de quem fui. Eu não sou mais quem fui.
Quero gritar que isso é um engano, que não estão vendo a verdade, mas a verdade é a que está estampada mesmo, é a que a minha maquiagem não consegue cobrir. Minha alma rasga-se inteira tentando sair, tentando fugir, porque meu corpo não é um bom lugar para se estar perante esses olhares acusadores que dizem saber que a culpa é minha. Que não dizem nada e acusam com os olhos. Que me fazem abaixar a cabeça e não olhar diretamente, nunca, em hipótese alguma, nem para os meus próprios olhos no espelho. Eu não tenho coragem de olhá-los. Alguém me tire de mim porque aqui não é um bom lugar para eu estar. Alguém me roube e me sequestre, leve tudo o que tenho de mim e não devolva nada. Roube minha alma e a despedace, por favor.
Eu nunca senti que eu era uma boa pessoa.