Uma pequena volta no tempo
04/09/2011
Na minha cidade existe um relógio que decidiu andar para trás durante alguns dias. Já faz alguns anos, mas até hoje inevitavelmente me lembro dessa história todas as vezes que passo perto do relógio.
Disseram que havia sido um raio ou algo assim que mudara a direção dos ponteiros. Houve reclamações e promessas de que o conserto viria o mais rápido possível. Houve pequenas revoltas por parte daqueles que usavam o relógio para se situar no tempo. Houve notícias nos jornais denunciando a falha.
É claro, havia aqueles que não percebiam mudança alguma no relógio. Havia aqueles que não se importavam com isso. E havia eu, que não conseguia evitar de ver uma beleza poética em ponteiros que andam no sentido anti horário.
Era como se estivéssemos voltando no tempo. Como se o mundo dissesse que podemos ter outra chance. Que podemos tentar de novo, que podemos insistir mais um pouco, porque o tempo não é nada, o tempo é abstrato, o tempo só existe para aqueles que têm pressa. E pressa para quê, se não estamos preparados para o que o futuro nos reserva?
Mas a pergunta que me fiz na época foi outra: por que eu gostaria de voltar no tempo?
Durante aqueles dias em que os ponteiros correram contra o tempo, não consegui encontrar uma resposta. Hoje, tanto tempo depois, aquele mesmo relógio me deu alguns motivos.
Os ponteiros estavam lá, desta vez seguindo o sentido horário usual. Mas, de algum forma, eu voltei um pouco no tempo. Uma boa companhia e uma música que sempre me fez sorrir me fizeram voltar os ponteiros da minha vida durante alguns minutos.
Havia algumas pessoas na praça, mas isso não me impediu de levantar e estender a mão para que ele dançasse comigo. E durante os minutos em que a música tocou, eu me senti tranquila. Lembrei-me de momentos passados. De outros dias, de outras conversas, de outros sorrisos. De outras danças. Senti como se estivesse segura naqueles braços. Como se as conversas ligeiramente confusas não importassem mais. Como se ninguém precisasse tomar decisão nenhuma. Como se aquele momento fosse eterno, único. Perfeito.
- Igual a primeira vez. - Ele disse, com um pequeno sorriso nos lábios.
Eu o olhei, sem dizer nada. A música ainda tocava, nós ainda dançávamos e meu coração estava cheio de um sentimento bonito.
Eu apensa sorri. Por dentro e por fora.