O diálogo inexistente
25/06/2011
Eu não percebi quando ela entrou no ônibus. Distraída como sou, não percebi nem mesmo quando se sentou ao meu lado. Só notei sua presença algum tempo depois, quando afastou os cabelos do rosto e enxugou algumas lágrimas.
Eu não a conhecia, mas ela se parecia com muitas garotas que andam por aí. Fones de ouvido, olhar perdido na paisagem lá fora. Devia ter mais ou menos a minha idade, talvez um pouco mais nova. Não tinha nada que chamasse a atenção, exceto a situação em que se encontrava: estava chorando.
Não tive nenhuma reação imediata. Não sabia o que deveria fazer. Talvez devesse ignorar sua presença, do mesmo modo que me ignorava. Mas a minha vontade era de me virar para ela e dizer:
- Não fica assim não... As coisas vão melhorar, acredite.
Ela se viraria para mim e diria, ainda com lágrimas nos olhos:
- Eu não entendo. Por que tudo tem que ser tão difícil assim?
- Eu não sei. Eu busco as mesmas respostas que você busca, há um bom tempo. Até hoje não descobri em qual sentido o mundo gira e por isso também fico um pouco tonta às vezes.
- Por que as coisas não podem ser do jeito que eu gostaria, pelo menos uma vez na minha vida?
Nesse momento ela desviaria o olhar e eu ficaria um instante calada. Depois diria, um pouco para ela e um pouco para mim mesma:
- Ah, menina, como eu queria que as coisas fossem simples assim.
Seria a vez dela de ficar calada. Depois, voltaria os olhos para mim, ainda cheios de lágrimas.
- Eu quero esquecer de tudo o que eu estou sentindo. Como é que a gente faz para enterrar um sentimento e não pensar nisso nunca mais?
Desta vez, eu que desviaria o olhar. E diria:
- Sentimento a gente não enterra, menina. A gente deixa doer até achar que não vai dar pra aguentar. Aí a gente descobre que aguenta sim, que a gente é forte. E uma hora tudo passa.
Nós ficaríamos em silêncio por um tempo. Então eu apertaria levemente uma das mãos dela, sorriria um pouco e me levantaria. Desceria do ônibus e a deixaria seguir com as minhas palavras em sua mente.
Mas é claro que nada disso aconteceu. Em vez disso, eu permaneci calada e ela também. Durante todo o caminho ela chorou, as lágrimas caindo silenciosamente, o olhar voltado para a janela. Então o ônibus parou, ela se levantou, passou por mim sem me ver e foi embora.