O que me faz ficar aqui
07/05/2011
Ainda existe, em algum lugar dentro de mim, aquela garota que quer ir embora. Desaparecer, fugir. Sem contar a ninguém, sem olhar para trás. Não vou a lugar nenhum, é claro, nunca fui. Mas vez ou outra, quando entro em um vagão do metrô ou quando olho através da janela de um ônibus e vejo o mundo lá fora, ainda surge aquela vontade de não ir ao lugar onde pretendia ir e deixar que o destino escolha meu próximo paradeiro.
É claro que nunca segui este impulso. Não por falta de coragem ou de oportunidade, mas por saber que em qualquer lugar que eu vá, ainda serei eu mesma. Posso fugir das pessoas, das obrigações impostas, de alguns problemas. Mas ainda terei minha consciência apontando minhas falhas. E andarei em círculos, deparando-me com as mesmas antigas decepções, provocadas por novas pessoas. Posso deixar tudo para trás, mas nunca me livrarei de mim mesma. E minha vida me seguirá em qualquer lugar, o que torna inútil a vontade de ir. Eu não poderia ir embora, mesmo se quisesse.
Mas esta vontade tem aparecido cada vez com uma frequência menor. E confesso que quando ela surge, não penso mais em como eu poderia ir. Penso nos motivos que tenho para ficar. Porque hoje, quando o silêncio da noite é muito profundo, o telefone costuma tocar, o que antes raramente acontecia. E em vez de permitir que os pensamentos embaralhem minha mente, eu permito que um sorriso se forme em meus lábios. Porque não me importo mais com aqueles que me mostram os problemas do mundo e da minha vida. Não importa o quanto algumas coisas são imperfeitas, um sorriso bonito me lembra o quanto alguns momentos são perfeitos.
E hoje posso dizer que eu iria a qualquer lugar do mundo, desde que pudesse voltar para casa no fim do dia. Talvez eu não tenha coisas extraordinárias na minha vida, mas tenho pessoas extraordinárias. E hoje eu sei que também sou importante para algumas delas. Eu iria a qualquer lugar do mundo, mas sempre voltaria. Pelas pessoas.